sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Amor(es) de Verão - Parte I



      - "Haverá pior forma de começar as férias???".
      Questiona-se Carolina, sentada cabisbaixa à beira da estrada, ao lado de uma espessa nuvem de fumo, proveniente do seu velhinho Fiat Panda. Depois de um exaustivo último dia de trabalho, e a uns escassos quilómetros de casa, o seu fiel companheiro das deslocações casa/trabalho-trabalho/casa decide adiar-lhe as férias por mais umas horas.  Após um persistente soluçar surgiu a nuvem de fumo debaixo do capot que a obrigou a encostar à berma e chamar o reboque, ali mesmo, já com vista para o seu apartamento na Alta de Lisboa!

      Apesar do enorme desejo de abandonar a fumarenta lata velha, deslocar-se a pé em pleno eixo norte-sul até casa para fazer as malas e partir para o tão desejado destino de férias, Carolina sabe que terá que continuar a contar, no regresso ao trabalho, com o seu desgastado companheiro de viagem e por isso espera impacientemente pelo reboque. O salário de agente musical, que tem vindo a reduzir quase trimestralmente,  não permite grandes investimentos e o facto de contar apenas com o seu salário para gerir as despesas mensais pesa muito na sua decisão de não investir num carro novo. Se as coisas estivessem de outra forma no país mandava mais de metade dos artistas para quem trabalha dar uma volta. Alguns parecem crianças birrentas sempre a pedinchar mais coisas para lhes aumentar o ego! Há dias em que não há pachorra e o sonho, ao qual dedicou cinco anos de estudo e outros tantos de vida profissional, mais parece um pesadelo!

     Avista finalmente o reboque! Enraivecida por estar já há 40 minutos à espera levanta-se bruscamente com um duro discurso já preparado na ponta da língua mas mesmo antes de conseguir começar a falar é surpreendida com uma buzinadela do condutor do reboque. Solta um pequeno grito de terror corando logo de seguida ao constatar que este se apercebera do seu susto. Ainda mais furiosa, devido ao embaraço, tenta nova investida mas o sorriso do jovem condutor do reboque, seguido por um pedido de desculpas pelo susto e uma justificação pela demora, volta a não lhe dar hipótese de descarregar a frustração da avaria.

    - "Boa tarde Dona!. Desculpe lá tê-la assustado, não era minha intenção! Desculpe-me também pela demora mas já estava de saída quando recebi a sua chamada. Teve sorte porque hoje é o meu último dia de trabalho antes das férias e estou bem disposto. Se fosse noutro dia qualquer não tinha voltado a vestir a roupa de trabalho só para vir rebocar o seu carro!. Tem suspeitas do que possa ter sido?".
- "Não! Riposta a agente musical de forma brusca sem sequer cumprimentar o rebocador.
- "Não percebo nada de mecânica e para além disso se soubesse o que era tinha resolvido e não lhe ligava não acha?" 
    Carolina não esboçou sequer um sorriso e toda a sua má disposição só fez com que não obtivesse resposta. O condutor do reboque, Dinis - pelo que conseguiu ler apressadamente na placa identificativa, não voltou a falar apressando-se apenas a fazer o seu trabalho. Com Dinis concentrado no serviço, Carolina observou-o, escondida por de trás dos seusespelhados óculos de sol, e por breves segundos deixou escapar um sorriu ao percorrer o corpo musculado do rapaz. 

      Apesar do azedume inicial Carolina mostrou-se mais calma durante a boleia que Dinis lhe ofereceu até casa.
     - Peço desculpa pela forma como falei há pouco! È que não me vinha nada a calhar este contratempo. Mais pelo transtorno e pelo dinheiro porque as férias, essas, continuam garantidas. Vou de autocarro ter com uma amiga ao Algarve!".
     Obteve apenas um sorriso! À distância dos acontecimentos sentia-se agora embaraçada por ter causado uma tão má primeira impressão mas nada havia agora a fazer. Voltou a fixar os olhos nos bronzeados ombros do rapaz. Perdeu-se por instantes mas voltou à terra ao ouvir a voz de Dinis: 
     - Como lhe disse há pouco vou estar de férias até ao final do mês. Quem vai arranjar o seu carro é o meu pai mas na altura da entrega já estarei presente. Desejo-lhe umas boas férias!".
     - "Igualmente". Ripostou Carolina ao sair do reboque.

    Estranhamente nessa noite, durante a viagem de autocarro, Dinis não lhe saía da cabeça. O sorriso, o corpo atlético, a boa disposição mesmo perante alguém tão indelicado, fizeram-na desejar poder voltar atrás no tempo. Aí teria tido uma outra abordagem e quem sabe o seu final de dia tivesse sido diferente. Fechou os olhos e sonhou com Dinis!!!



3 comentários:

  1. Mudança de visual e de âmbito... Hmmmm! Gosto! ;)

    ResponderEliminar
  2. Não sabia k eras tão escritora,quem sabe se ainda me vais escrever um livro das minhas memórias? (estou a brincar)mas gostei muito.Mãe

    ResponderEliminar
  3. Eh pá gostei mesmo do que li. Uma história interessante com uma lição por trás (a de que não se deve descarregar a raiva nos outros).
    Fez-me lembrar aqueles livros de bolso da coleção Arlequim. Espero pela parte 2 e pelo momento em que a Carolina vai buscar o carro e só lá está o Dinis e....não percam o próximo episódio porque eu...também não ;p

    ResponderEliminar